Concepções Correntes de Salvação

O texto abaixo é um resumo baseado no livro “Introdução à Teologia Sistemática” de Millard J. Erickson, 1ª edição, 1997, p. 372-379.

Significados da Ressurreição de JesusI.) Teologias de Libertação
Podemos subdividir esse movimento em várias teologias: negra, feminista e do Terceiro Mundo. Uma das ênfases comuns aqui é que o problema básico da sociedade é a opressão e a exploração das classes fracas pelas poderosas. A salvação consiste em livramento (ou libertação) de tal opressão. O método de libertação deve ser adequado à natureza da situação específica. Mas qual a natureza específica da salvação conforme a concepção das teologias de libertação? Elas não pensam na salvação primeiramente como a vida após a morte do indivíduo. A Bíblia, afirmam, preocupa-se muito mais com o estabelecimento do reino de Deus na era presente. Mesmo a vida eterna é em geral colocada no contexto de uma nova ordem social e se considera que consiste não tanto em ser arrancado da história, mas em ser participante em sua culminação. A salvação de todas as pessoas, tirando-as das forças opressoras, é o alvo da obra de Deus na história e deve, portanto, ser a tarefa dos que creem nele. Esses procurarão concretizar a salvação nesse sentido, por todos os meios possíveis, incluindo-se o esforço político e até uma revolução, caso necessário.

II.) Teologia Existencialista
No pensamento de Heidegger, nosso alvo deveria ser a existência autêntica, ou seja, ser o que devemos ser, vivendo de tal forma que se cumpra o nosso potencial como homens. A salvação não é, portanto, uma alteração na substância da alma, como alguns costumam entender a regeneração, nem uma declaração forense de que somos justos perante Deus, a compreensão tradicional de justificação. Antes, trata-se de uma alteração fundamental de nossa Existenz, toda nossa perspectiva de vida e nossa conduta de vida.

III.) Teologia Secular
Todo o ambiente cultural em que se desenvolve a teologia vem mudando. O modo de a raça humana encarar a realidade está sofrendo alterações. Nos períodos anteriores, a maioria das pessoas cria em Deus. Pensava-se que sua atividade fosse a explicação da existência do mundo e do que nele acontece, e ele era a solução dos problemas enfrentados pelos homens. Hoje, porém, muitos confiam no visível, no aqui e agora, e em explicações que não reconhecem nenhuma entidade transcendente. Esses tornaram-se seculares, ou seja, inconscientemente, passaram a seguir um estilo de vida que, na prática, não tem espaço para Deus. Parte dessa concepção secular resulta de um pragmatismo básico. Os progressos científicos têm conseguido suprir as necessidades humanas; a religião deixou de ser necessária ou eficaz. Portanto, vivemos numa era pós-cristã.
Existem duas respostas possíveis da igreja diante dessa situação. Uma é ver o cristianismo e o secularismo como adversários mutuamente excludentes. Nos últimos anos, porém, uma resposta diferente vem sendo cada vez mais adotada por teólogos cristãos. Trata-se de considerar o secularismo não como um adversário, mas como uma expressão madura da fé cristã. Um dos precursores dessa abordagem desenvolveu uma posição a que se referia como “cristianismo a-religioso”. Deus educou sua mais alta criatura para ser independente dele. Assim, Deus vem atuando no processo de secularização.
A teologia secular rejeita a ideia tradicional de que a salvação consiste em ser retirado do mundo e receber uma graça sobrenatural de Deus. Antes, a salvação não é obtida tanto por meio da religião, mas pelo afastamento dela. Ter consciência da própria capacidade e utilizá-la, tomar-se independente de Deus, emancipar-se, afirmar-se e se envolver com o mundo – esse é o verdadeiro significado da salvação.

IV.) Teologia Católica Romana Contemporânea
A posição católica oficial há muito é de que a igreja é o único canal da graça de Deus. Essa graça é transmitida por meio dos sacramentos da igreja. Os que estão fora da igreja oficial ou organizada não podem recebê-la. A igreja considera-se detentora exclusiva do privilégio de distribuir a graça divina.
Nos últimos anos, a igreja católica tem sido mais aberta à possibilidade de alguém fora da igreja visível e, talvez, de alguém que de modo nenhum se declare cristã ser recipiente da graça. Por conseguinte, o entendimento católico da salvação tornou-se um tanto mais abrangente que a concepção tradicional. Em particular, o entendimento corrente inclui dimensões que costumavam ser associadas ao protestantismo.

segredo da oraçãoV.) Teologia Evangélica
A posição ortodoxa ou evangélica tradicional a respeito da salvação está intimamente ligada ao entendimento ortodoxo da situação humana. Nesse entendimento, o relacionamento entre o ser humano e Deus é o principal. Quando esse relacionamento não é correto, as outras dimensões da vida também são adversamente afetadas. As Escrituras indicam que há dois aspectos principais no problema do pecado humano. Em primeiro lugar, o pecado é um relacionamento quebrado com Deus. Os homens têm falhando no cumprimento das expectativas divinas, seja por transgredir limitações impostas pela lei de Deus, seja deixando de fazer o que é nela ordenado. O afastamento da lei resulta num estado de culpa ou na passibilidade de castigo. Em segundo lugar, a própria natureza da pessoa é maculada em razão do afastamento da lei. Agora, existe uma inclinação para o mal, uma propensão para o pecado. Em geral denominada corrupção, muitas vezes ela também se apresenta em forma de desorientação e conflitos internos. Além disso, por vivermos numa rede de relacionamentos interpessoais, a ruptura em nosso relacionamento com Deus também resulta num distúrbio em nosso relacionamento com outras pessoas. O pecado também assume dimensões coletivas: toda a estrutura da sociedade inflige dificuldades e injustiças aos indivíduos e aos grupos minoritários.
Certos aspectos da doutrina da salvação dizem respeito à questão da posição do indivíduo perante Deus. A situação legal do indivíduo deve ser mudada de culpado para não culpado. É uma questão de a pessoa ser declarada justa ou reta diante de Deus, de ser vista como alguém que preenche totalmente as exigências divinas. O termo teológico aqui é justificação. A pessoa é justificada quando é unida legalmente a Cristo. Mas é necessário mais que uma mera remissão da culpa. Lembre-se de que a intimidade terna que devia caracterizar o relacionamento da pessoa com Deus se perdeu. Esse problema é retificado pela adoção. Na adoção, a pessoa é restaurada ao favor de Deus e recebe uma oportunidade de reivindicar todos os benefícios providos pelo Pai amoroso.
Além da necessidade de restabelecer o relacionamento da pessoa com Deus, existe a necessidade de mudar as condições de seu coração. A mudança básica na direção da vida da pessoa, de uma inclinação para o pecado para um desejo positivo de viver em retidão, é denominada regeneração ou, literalmente, novo nascimento. Implica uma verdadeira mudança no caráter da pessoa, uma infusão de uma energia espiritual positiva. Isso, porém, é apenas o começo da vida espiritual. Também existe uma mudança progressiva da condição espiritual do indivíduo: ele de fato se torna mais santo. Essa mudança subjetiva progressiva é denominada santificação (“tornar santo”). A santificação por fim chega à sua plenitude na vida após a morte, quando a natureza espiritual do crente será aperfeiçoada. Isso é denominado glorificação. A preservação pessoal da fé e do compromisso, até o fim, pela graça de Deus, é a perseverança.
Quais são os meios de salvação ou os meios da graça? A Palavra de Deus desempenha um papel indispensável em toda a questão da salvação (1 Pe 1.23, 25) e é o meio pelo qual Deus nos apresenta a salvação encontrada em Cristo. A fé é nosso meio de aceitar essa salvação (Ef 2.8,9). As obras, portanto, não são meios para receber a salvação. Antes, são a consequência natural e a prova de uma fé genuína. A fé que não produz obras não é fé real. Inversamente, as obras que não brotam da fé e de um relacionamento adequado com Cristo não terão validade na hora do julgamento.
Qual é a amplitude da salvação? Ou seja, quem será salvo? Será que todos serão salvos? De tempos em tempos, a posição de que todos serão salvos é exposta na igreja. Essa posição é conhecida como universalismo. A concepção usual da igreja ao longo da história, porém, e a concepção adotada pela maioria dos evangélicos, é a de que embora alguns ou muitos venham a ser salvos, alguns não serão. A igreja assumiu essa posição não porque não quisesse ver todos salvos, mas porque cria que as Escrituras contêm afirmações claras de que alguns se perderão. Apesar de Deus se importar com todas as necessidades humanas, tanto individuais como coletivas, Jesus deixou claro que a eterna guerra espiritual dos indivíduos é infinitamente mais importante que o atendimento das necessidades temporais.

Publicidade

Sobre Cristianismo Total

Cristianismo Total é um blog evangélico que tem como objetivo difundir a fé Cristã, que é a mensagem através da qual o Deus Eterno se revelou à humanidade.
Esse post foi publicado em Soteriologia, Teologia e marcado , , , , , , , , , , , . Guardar link permanente.

2 respostas para Concepções Correntes de Salvação

  1. jean márcio disse:

    Parabéns Pastor, por essas excelentes publicações.

  2. Antonio Lucio Furtado disse:

    Bem assim irmãos! Deus, o Altíssimo continue os abençoando, para que continuem sendo instrumentos de bênçãos às pessoas.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s